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jeudi, 15 mai 2008

Reflexoes sobre a proclamaçao unilateral de independencia do Kosovo

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Reflexões sobre a proclamação unilateral de independência do Kosovo

A questão coloca-se: deve ou não ser reconhecida a independência do Kosovo? Noutros termos, podemos reconhecer o direito de uma população, dispondo de um parlamento infra-estatal, de proclamar a sua independência, se a maioria dos seus representantes são a favor disso?

Neste questionamento, há dois princípios que se cruzam:

1) O direito dos povos a dispor de si, o direito de toda a identidade, assente em critérios objectivos e bases concretas (étnicas, linguísticas, históricas, etc. …), a dotar-se de um sistema de representação política próprio num quadro espacio-temporal determinado, seja no quadro de um Estado multiétnico (segundo o modelo helvético) ou num Estado que prevê um federalismo, mais ou menos assim entendido, segundo outros modelos, como o federalismo alemão ou o Estado de comunidades autónomas que é actualmente a Espanha. Este direito à autonomia dá o direito à infependencia? A questão pode permanecer aberta no quadro europeu.

2) O direito dos povos europeus a recusar toda a balcanização que enfraquece o continente no seu conjunto, gera no seu seio conflitos exploráveis por potências terceiras, geralmente estrangeiras ao território europeu (segundo a terminologia de Carl Schmitt: des «raumfremde Mächte»).

O primeiro destes princípios é um princípio de direito. O segundo é um princípio de geopolítica. A independência unilateral de independência do Kosovo suscita uma contradição: Opõe, mesmo porque foi declarada unilateralmente, o direito à geopolítica, enquanto que na Europa direito e geopolítica não deveriam opor-se mas antes formar, em concerto, uma unidade indissociável. O direito deve ajudar a consolidar o conjunto territorial, a barrar o caminho a toda a tentativa de deslocamento e não a sancionar práticas que desembocam no enfraquecimento ou desmantelamento.

O direito à autonomia, mesmo o mais alargado, inclusive até à independência estatal, é inalienável na perspectiva anteriormente desenhada por Herder, defensor filosófico das identidades populares, no mundo germânico como nos Balcãs, onde contou, precisamente, com muitos discípulos. Contudo, este jogo dialéctico complexo entre a identidade local e particular, de uma parte, e, de outra parte, a necessidade de assegurar um quadro sólido onde todas estas identidades poderiam desenvolver-se em paz e harmonia, implica construir, todos juntos na Europa, um quadro comum tirado das experiências vividas, muitas vezes tragicamente, pelos povos da Europa ao longo dos séculos. Este quadro deveria ser o avatar contemporâneo de uma unidade inicial comum, que ganhou asas a partir de um território centro-europeu desde o final da pré-história, nas premissas da proto-história. O facto etno-histórico europeu difundiu-se a partir de um centro, principalmente alto-danubiense (território das culturas do Michelsberg, depois das civilizações de La Tène e de Hallstatt) que, seguindo as margens do grande rio, se propagou depois nos Balcãs (culturas de Lipinski-Vir, de Starcevo,etc.). Os Balcãs são nossos, se são o nosso Ergänzungsraum imediato, o nosso trampolim em direcção ao mediterrâneo oriental, o Egipto, a Anatólia, o Crescente Fértil.

Este direito à autonomia é, certamente, um direito, mas unicamente para aqueles que reconhecem plenamente a unidade primordial dos nossos povos antes da sua difusão para as vastas periferias. A albanidade, como a helenidade, a celticidade ou a italianidade, não fogem a esta regra. Reconhecemos, então, totalmente, o princípio de uma albanidade europeia, cujas fronteiras se dirigem para sul, em direcção ao mediterrâneo oriental e ao Egipto (Mehmet Ali era de origem albanesa). Mas o Kosovo, ao tornar-se muçulmano após a conquista otomana, deixa de ser essa albanidade capaz de se projectar em direcção a esse Sul e a esse Oriente para aumentar o espaço europeu. É a traição quando comparada com o espírito do grande herói Skanderbeg, capitão no Adriático no século XV, às portas do mediterrâneo oriental, contra os otomanos. Ao tornar-se otomana e muçulmana, a albanidade volta as suas forças contra o centro da Europa, faz-se ponta de lança de duas direcções geopolíticas estrangeiras e, portanto, inimigas da Europa: a direcção dos povos turco-mongóis (que parte da Mongólia em direcção à puszta húngara e ao Adriático) e a direcção dos povos hamito-semitas (que parte da península arábica em direcção a todos os azimutes).

Independente, o Kosovo tornar-se-á o terceiro Estado muçulmano nos Balcãs depois da Albânia e da Bósnia. Formará, com eles, uma avant-garde panturaniana (turco-mongól) e arabo-muçulmana (hamito-semita) no belo seio de uma região que foi sempre o trampolim da Europa em direcção à sua periferia leste-mediterrânica e egípcia. Uma Europa encerrada nesta mesma região dos Balcãs não teria mais real abertura sobre o mundo, estaria condenada à subjugação e à implosão. Lembremo-nos dos povos pré-helénicos que fizeram a glória da Grécia antiga: transitaram pelos Balcãs, incluindo os macedónios de Filipe e Alexandre. Lembremo-nos de Roma, que teve de controlar os Balcãs antes de passar à ofensiva na Ásia Menor e de se lançar sobre o Egipto. A Europa não pode tolerar corpos estrangeiros nesta região altamente estratégica. Todo o corpo estrangeiro, isto é, todo o corpo que entende pertencer a agregados que não respeitam as direcções geopolíticas tradicionais da Europa, impede o desenvolvimento actual e futuro do nosso continente. Nas lutas planetárias que se desenham nesta alvorada do século XXI, aceitar um tal enfraquecimento é imperdoável da parte dos nossos dirigentes.

Nas querelas que animaram, no curso destes últimos anos, a pequena cena intelectual parisiense, certos polemistas argumentaram que há, ou havia, uma aliança implícita entre o germanismo centro-europeu e o otomanismo, depois entre o germanismo e os independentistas bósnios e albaneses, durante as duas grandes confrontações mundiais de 1914-1918 e 1939-1945. Este argumento ignora evidentemente a mudança dos dados. O maior pólo de potência, que se projectava nestas épocas, situava-se precisamente no centro do nosso continente, nas bacias fluviais paralelas do norte da Europa e na bacia do Danúbio, e arrastava o pólo otomano numa dinâmica dirigida ao sul, ao oceano Índico. No conflito balcânico dos anos 90 do século XX, o centro da Europa já não era de todo um pólo de potência, estava dividido (balcanisado!) e avassalado. A reactivação dos particularismos bósnios e albaneses não resultava já de um pólo de potência europeu à procura de se projectar em direcção à bacia oriental do mediterrâneo ou à mesopotâmia e ao oceano Índico, neutralizando positivamente, por uma política de mão estendida, algumas minorias muçulmanas. Esta nova reactivação, na última década do século XX, foi o resultado da aliança entre Wahabitas sauditas e puritanos do lado de lá do atlântico procurando, concertadamente, criar uma «dorsal islâmica» (segundo a terminologia dos geopolitólogos sérvios, entre os quais o nosso saudoso amigo Dragos Kalajic) cuja função geoestratégica deveria ser dupla: 1) bloquear o Danúbio à altura da capital da sérvia e 2) instalar sobre a linha Belgrado- Salónica um bloco territorial fora da soberania sérvia, porque esta linha é a via terrestre mais curta entre o centro danubiense da Europa e a bacia oriental do mediterrânico.

Um bloco territorial desta natureza, recebendo o apoio wahabita e americano, é inaceitável de um ponto de vista europeu, mesmo se a galeria de traidores, cretinos e cérebros de galinha que se dizem representantes da Europa em Bruxelas ou Estrasburgo, pretende o contrário. Esta galeria de idiotas raciocina dissociando o direito da geopolítica, enquanto que seria necessário pensá-los em fusão e em harmonia.

O Kosovo, que, para além desta posição central que ocupa na linha Belgrado-Salónica, é o antigo «Campo dos Melros», sítio da batalha sangrenta que opôs o exército medieval sérvio aos invasores otomanos. Sobre esse solo sacro, a aristocracia sérvia derramou todo o seu sangue para a salvaguarda da Europa. O «Campo dos Melros» tornou-se, portanto, pelo sacrifício desta cavalaria, um território sagrado, altamente simbólico, não somente para a sérvia e para os outros povos balcânicos em luta contra a barbárie otomana, mas também para os Húngaros, os soldados borgonheses e imperiais, que tentaram cruzadas infrutuosas para anular e impedir a vitória turca do Campo dos Melros. O esquecimento constitui uma outra falha cardinal e imperdoável: é dessacralizar a história, dessacralizar o político, privilegiar o processualismo e o presentismo nos raciocínios e actuações políticas e geopolíticas; é esquecer, num sentido e noutro, o longo prazo em benefício do imediato e do superficial. “Non possumus”: não incidiremos jamais em tais falhas!

Vários países europeus recusam reconhecer a independência do terceiro elo da «dorsal islâmica», como é o caso da Espanha, e os países maioritariamente ortodoxos como a Roménia e a Bulgária. Em França, na sacrossanta «República» apresentada como a parangona inultrapassável de todas as virtudes filosóficas, os dois novos defensores burlescos da política, o universalista mediomano Kouchner e o seu presidente, Sarkozy, denominado o «anão húngaro», apressaram-se a reconhecer desde logo, trompetes ruidosas e tambores retumbantes, a entidade wahabita-americanista que é o Kosovo. Perguntamo-nos como Voltaire ou Robespierre, devotas da Deusa Razão, conciliariam o seu laicismo com o preconceito dos wahabitas e dos seus aliados americanos. Mas o reconhecimento por Sarkozy e Kouchner do Kosovo é ao menos uma boa nova, porque interrogamo-nos sobre o que poderiam retorquir os dois larápios se amanhã uma enfiada de potências europeias ou outras adquirisse bruscamente a vontade de reconhecer uma república corsa, um novo ducado da Bretanha ou um novo Estado insular nas DOM-TOM ou, mais fácil ainda, o regresso à independência da Sabóia, que existe de jure. A independência da Sabóia poderia vir a ser, muito legalmente, a primeira alavanca para reanimar a existência política e estatal de Bresse (na província de Sabóia), da Lorena (grão-ducado imperial), do Franco-Condado, etc. Aos poucos, a velha Lotaríngia tomaria forma, ao longo do Ródano na Provença e no Delfinado, tornando actual o testamento de Carlos V (que nunca deveríamos ter esquecido, nem em Munique, nem em Viena, nem em Roma, nem em Madrid, nem em Bruxelas).

A Rússia, pela sua parte, poderia, através de uma interpretação jurisprudencial da independência do Kosovo, obrigar a aceitação da independência de duas províncias georgianas: a Abecásia e a Ossétia do Sul, desmembrando de um só golpe o principal peão dos EUA e da NATO no Cáucaso.

Qualquer que seja o resultado da independência kosovar na Europa, ele oferece-nos possibilidades de acção:

1) Se ninguém a reconhece ou se fortes resistências se opõem ao seu pleno reconhecimento não haverá «dorsal islâmica» nem bloco territorial a obstruir a linha Belgrado-Salónica.

2) Se todos reconhecem o Kosovo independente surge um pretexto para desmembrar a França e reconstruir o flanco ocidental e romano do defunto Sacro Império, cuja restauração permitiria à Europa dotar-se de uma espinha dorsal político-espiritual. Esta restauração significaria simultaneamente a morte definitiva da ideologia republicana, esse malefício que atinge o cúmulo do ridículo com o binómio Sarközy-Kouchner. O único perigo de um reconhecimento geral do Estado kosovar seria dar pretexto aos muçulmanos de Ceuta e Melilla para reclamarem uma independência análoga, com o beneplácito dos mesmos padrinhos wahabitas e yankees. Razão pela qual a Espanha recusa reconhecer o novo Estado auto-proclamado (para além do caso basco).

Em qualquer dos casos, teremos ocasião de militar em defesa da nossa visão da Europa. De permanecer combatentes, Verdadeiros «zoon politikon». Vestais de um inelutável Grande Retorno da tradição imperial.

00:25 Publié dans Affaires européennes | Lien permanent | Commentaires (0) | Tags : géopolitique, actualité, balkans | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook

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